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A mordomia da alma e do espírito

A Lição de hoje é um chamado para os cuidados essenciais que todo cristão precisa ter com a sua alma e espírito. A princípio trabalharemos uma parte mais teórica e teológica, quando conceituaremos alma espírito no tópico Imas nos tópicos II e III traremos orientações práticas sobre como proceder a correta mordomia do nosso “homem interior” (2Co 4.16).

Sem dúvidas, esta é uma aula em que aprenderemos a ortodoxia (crença correta), mas também a ortopraxia (prática correta).

I. Conceituando alma e espírito

Antes do conceito, precisamos ressaltar nosso compromisso com a doutrina bíblica da natureza espiritual do ser humano. Embora tenha sido formado do pó e seja pó (não no sentido de reduzir-se à matéria, mas no sentido da sua fraqueza, especialmente quando comparada à grandeza imensurável do Criador), o homem foi feito por Deus “alma vivente” (Gn 2.7), e tem em sua constituição tanto a parte física com que se relaciona com o mundo como a parte espiritual e invisível que, uma vez criada, durará para sempre (sim, espírito e alma são imortais!).

Nas palavras do teólogo pentecostal Raimundo de Oliveira, “O homem é muito mais que um amontoado de agentes químicos. Ele é muito mais que carne e osso. O homem é um ser espiritual, pois Deus o fez alma vivente. Ele não é só um ser transitório, isto é, de existência física limitada. O homem é um ser que Deus ao cria-lo, destinou-o a eternidade.” [1]

A existência da alma e do espírito, que permanecem mesmo após a morte física e com os quais o homem se relaciona com o mundo espiritual, é um ensino bíblico inquestionável, ainda que seus detalhes possam constituir-se um mistério para nossa limitada inteligência. Veja-se, só a título de exemplo, a parábola contada pelo próprio Jesus sobre um certo rico e um certo mendigo chamado Lázaro, cujo enredo em sua maior parte se dá num ambiente espiritual, após a morte de ambos (Lc 16.19-31).

1. O significado de alma

É difícil, senão impossível, definir com precisão o significado de alma. Os dicionaristas por vezes não são muito claros ou didáticos na explicação, o que acaba não auxiliando muito o crente leigo. Também é comum na comparação entre diferentes dicionários, vermos significados de alma e de espírito sendo usados intercambiavelmente, o que gera mais confusão que compreensão.

Isso, porém, não é de se estranhar, visto que em geral os próprios escritores bíblicos, de uma forma especial os do Antigo Testamento, não fazem distinção precisa entre nephesh (alma em hebraico) e ruah (espírito em hebraico). A Bíblia não foi escrita como um livro de teologia sistemática, onde possamos encontrar a matéria Antropologia com essas conceituações feitas detalhadamente pelos autores bíblicos. Com a revelação progressiva do Novo Testamento é que se percebe mais claramente uma distinção entre psyche (alma, em grego) e pneuma(espírito em grego). Entretanto, mesmo assim, persistem algumas dificuldades na compreensão da natureza de cada uma dessas entidades. Realmente, só a Palavra de Deus pode discernir a “divisão da alma e do espírito” (Hb 4.12).

Por considerarmos uma das mais sucintas e, no entanto, mais lúcidas conceituações de alma, partilhamos com o leitor essa definição de Menzies e Horton:

Pode-se dizer que o termo “alma” é usado teologicamente para denotar o próprio “eu”, particularmente em relação à vida consciente, aqui e agora (Ap 6.9). A alma humana provê a nossa autoconsciência [consciência de que existo e de quem sou]. É a alma que torna o indivíduo uma personalidade genuína, dotada de características ímpares. As faculdades da alma, comumente consideradas, são: intelecto, emoções e vontade. Juntas, essas qualidades compõem a pessoa real. [2]

2.  Origem da alma

Há muitas teorias e especulações quanto a origem da alma, se ela é preexistente (como defendia um dos Pais da Igreja Grega, Orígenes, no terceiro século), se ela é criada por Deus dias depois da concepção no ventre materno (como defendia Jerônimo e Pelágio, entre o quarto e quinto séculos) ou se ela é apenas uma forma diferente de referir-se às emoções e à inteligência humana, mas não a uma entidade espiritual que pode apartar-se do corpo.

Acreditamos pela Palavra de Deus que a alma é uma entidade espiritual real e que é formada junto com o espírito na concepção. De outro modo, não se poderia chamar o embrião recém-formado de ser humano ou de vida humana, visto que não haveria nele “alma vivente”. Elinaldo Renovato fez ótima observação:

Assim, podemos concluir que a alma humana é formada e, segundo as leis da procriação, deixada por Deus, numa cooperação entre os pais biológicos e “o pai dos espíritos” [Deus, o Criador de toda a vida]. Cada vez que um gameta masculino funde-se com um gameta feminino, seja no casamento ou fora dele, pela lei do Criador, forma-se um conjunto alma-espírito dentro do homem. Diz a Bíblia: “[…] Fala o SENHOR, o que estende o céu e que funda a terra, e que forma o espírito do homem dentro dele” (Zc 12.1b). [3]

3. Conceituação de espírito

Espírito é o nosso próprio ser interior revestido pela alma que lhe dá consciência. Deus é espírito, porque não tem corpo físico (Jo 4.24); nós não somos espíritos, mas temos espírito, e também somos constituídos de corpo. É esse espírito do homem que sobe até Deus após a sua morte (Ec 12.7). Por isso Jesus orou na cruz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46).

Entretanto, o espírito nunca se separa da alma e vice-versa. Isso porque o espírito e a alma juntos formam a nossa “pessoa espiritual”, e juntos ao corpo constituem o ser humano integral. Espírito sem alma seria um espírito morto, o que é impensável; enquanto que uma alma sem espírito, seria uma consciência ambulante, sem existência própria, sem identidade, sem personalidade, o que é igualmente impensável.

Na eternidade seremos espírito, alma ou corpo? Seremos o que já somos agora, no entanto revestidos de glória celestial! Não seremos espíritos desencarnados ou fantasmas, antes teremos a mesma constituição de agora, visto que nosso corpo será ressuscitado e revestido da imortalidade e incorrupção, perfeitamente adaptado para as condições das moradas santas que Deus nos tem preparado (1Ts 4.13-15).

 

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