Sou filho de pastor e também um jovem pastor. Desde minha infância, minha vida esteve profundamente entrelaçada com os trabalhos da igreja. Ainda muito jovem, com apenas 16 anos, comecei a auxiliar na liderança de adolescentes. Mais tarde, tornei-me líder de jovens, professor da Escola Bíblica e coordenador de departamentos. Passei por cada etapa ministerial – obreiro auxiliar, diácono, presbítero e evangelista – até chegar onde estou hoje.
Mas quero confessar algo: mesmo com toda essa trajetória, já me perguntei muitas vezes se este é realmente o meu chamado. Será que é isso que Deus quer de mim? Será que sou capaz? E, como muitos, tentei fugir. Várias vezes. Em todas elas, fui confrontado pelo Senhor. Deus, em Sua infinita graça, me trouxe de volta ao propósito, seja por meio de circunstâncias naturais, sobrenaturais ou mensagens enviadas por homens e mulheres usados por Ele. Foi como se Ele dissesse: “Você não pode fugir de Mim.” Ainda assim, me sinto pequeno, falho, incapaz. Mas creio firmemente que a capacitação vem de Deus, e não de mim.
Hoje, sou vice-pastor do campo liderado por meu pai. Essa foi uma decisão que nasceu de uma sugestão dele, um homem de Deus cuja vida de oração e obediência me inspira. A decisão foi apoiada pelo ministério, que entendeu que este era o caminho certo. Mas mesmo assim, as críticas surgem. Ser filho de pastor e ocupar uma posição de liderança é, muitas vezes, visto como nepotismo. Dizem que é monopolizar o ministério ou impedir que outros tenham oportunidades.
A Chamada Vai Além do Sobrenome
Em uma conversa de família, debatemos sobre filhos de pastores sucederem seus pais. Alguém mencionou que é natural um pai desejar que seu filho siga seus passos – assim como pais advogados, médicos ou jogadores de futebol. Mas, no ministério, há algo que vai muito além disso: o chamado de Deus.
A Bíblia nos ensina que Deus separou Arão e seus filhos para o sacerdócio (Êxodo 28:1). Assim como naquele tempo, hoje é Deus quem chama, capacita e confirma. Um filho de pastor que cresceu envolvido na obra muitas vezes tem a oportunidade de aprender com o exemplo diário do pai, enxergando as dificuldades e alegrias do ministério de perto. O pai torna-se não apenas um pastor, mas um mentor. No entanto, isso não significa que o chamado é automático. É Deus quem escolhe, e não o homem.
Críticas e Realidade
Já ouvi muitas críticas sobre pastores passarem o cajado aos filhos. Dizem que é nepotismo, mas essas críticas muitas vezes não se baseiam em fatos concretos. Quantos filhos de pastores realmente sucedem seus pais? Muitos, ao verem de perto as dores do ministério, decidem não seguir por esse caminho. E não os culpo. Ser pastor é uma chamada árdua. Não se trata de um status social; é carregar o peso de uma responsabilidade divina. Só quem vive o ministério sabe o preço que ele cobra.
Por outro lado, quando a escolha de um pastor se torna uma decisão política, sem consulta a Deus, surgem os problemas. É aqui que as críticas ganham força. Escolher um pastor com base em preferências humanas transforma o processo em um ato político, e não em um cumprimento da vontade divina. Isso desvia o foco e dá razão àqueles que acusam a igreja de nepotismo ou monopólio.
Um Incentivo aos Chamados
Aos filhos de pastores que sentem o chamado de Deus: não desistam. Não se deixem abalar pelas críticas. Não gastem energia tentando provar nada a ninguém. Apenas façam o que Deus os chamou para fazer. Deixem que Ele, através de seu trabalho, revele o propósito divino para suas vidas.
E aos irmãos que também aspiram ao ministério pastoral, digo o mesmo. Não é o sobrenome ou sua história que determinam seu chamado. É Deus quem escolhe. Como está escrito: “Se alguém deseja o episcopado, excelente obra almeja” (1 Timóteo 3:1).
Lembre-se: somos todos filhos do Bom Pastor. Nosso maior chamado é servi-Lo com fé, humildade e dedicação, independentemente do que digam. Pois, no final, o que realmente importa é que cumpramos a missão que Ele nos deu.
Por Joas Medeiros
