É perceptível uma problemática muito perigosa no seio de inúmeros relacionamentos, a falta de comunicação ou, a deficiência desta. Isso se dar por um simples fato: muitos passaram a viver de cumprimentos formais. Há casais que conseguem desabafar unicamente com amigos. Perderam tanto o prazer quanto a confiança um no outro, não são capazes de atribuir ao cônjuge a mesma confiança depositada no amigo.
Neste nobre artigo, propomos uma transformação na relação conjugal: o rompimento de uma rotina limitada em meras formalidades por um relacionamento íntimo e profundo, baseado na evolução de uma amizade sadia e verdadeira entre o casal. Queremos ressaltar quais consequências podem surgir em um relacionamento pautado em formalidades e, entenda que quando me refiro ao termo “meras formalidades”, estou me referindo as atitudes que se tornaram paisagens, todo dia é a mesma coisa, embora bonita, mas imutável e, com o tempo o encanto foi perdido em virtude da rotina.
Para uma compreensão mais apurada, entenda como formalidade, “aquilo que é de praxe”, (AURÉLIO, p. 329), e praxe é “o que se pratica habitualmente; (Lat. praxis)”, (FIGUEIREDO, 1913 p.1647). Diante das definições, podemos associar uma relação onde ambos os cônjuges se limitaram aos cumprimentos diários, estão fadados a uma rotina, uma relação sem profundida, sem novos impactos, sem novas emoções e com isso não conseguem manter uma conversa prazerosa, não conseguem rir um do outro, não conseguem desenvolver um diálogo íntimo, deixaram de ser amigos e se tornaram apenas um casal de aparências.
Um cenário assim não chega de repente. No decorrer dos anos de casados, o alegre e caloroso bom dia se tornou em um simples “oi”, os cumprimentos cheios de vida, os beijos e abraços se perderam com os anos. O que aconteceu com as emoções? Em muitos casos elas foram trocadas por formalidades, os cônjuges permitiram as ocupações sufocarem sua intimidade, ambos não sabem os reais problemas um do outro, as angústias, os propósitos e tantos outros fatores que saberiam se fossem amigos e confidentes.
Infelizmente, quando nossas palavras se limitam aos cumprimentos diários, incidimos no erro de pensar que está tudo bem, que a vida de casado está ótima, pois a esposa respeita ao marido, cuida bem dos filhos, o marido provê as necessidades materiais e respeita a esposa. Entretanto, a felicidade de um casal não está alienada a isso. É preciso haver intimidade! Precisamos ir além das formalidades, devemos esboçar interesse pelos acontecimentos do dia-a-dia de nossa parceira (o). É preciso compartilhar um evento, seja engraçado ou decepcionante, mas que algo seja dito além dos cumprimentos formais. É necessário esboçar sentimentos sinceros. Quando omitimos nossos sentimentos para manter formalidade estamos alimentando um grave perigo.
O perigo do “está tudo bem!”
A princípio nos parece estranho alguém dizer que é perigoso afirmar que está tudo bem. Quando de fato se estar, não há nenhum perigo. Todavia, existe um hábito destruidor nos relacionamentos: dizer o que não é. Já conheci amigos que vivenciaram esse problema, onde a esposa visivelmente está chateada, entretanto insiste em dizer que “está tudo bem!”. E vice-versa, existem esposos que não conseguem desabafar com sua companheira, mesmo vivendo uma insatisfação, mas persistem em dizer que “está tudo bem”.
Nas palavras do Pr. Josué Gonçalves, “Eu prefiro ser machucado por uma dura verdade, que ser massageado com uma doce mentira”, (GONÇALVES, 2015 p. 129). Ou seja, precisamos quebrar essa falsa realidade! chorar se for preciso! dizer não! Se não estiver bem. Caso isso não ocorra, algumas consequências drásticas podem surgir advindas dessa vida formal. Iremos expor algumas delas a seguir.
Perda de confidencialidades
Entre as palavras que gosto de pronunciar, confidencialidade é uma delas. Ela denota intimidade, segurança, confissões e segredos. Ela pode ser entendida como confidência, uma comunicação secreta; participação de um segredo. Confiança. (Lat. confidentia), (FIGUEIREDO, 1913 p. 524). Não há dúvidas que um casal deve desfrutar dessa virtude, devem confidencializar seus segredos, temores, alegrias e outros sentimentos íntimos.
Contudo, quem passa a viver de aparências, perde o interesse na vida pessoal do outro. Contribuindo assim, para um relacionamento raquítico, desprovido de emoções e sentimento verdadeiros. Para que haja confidencialidade é preciso uma conversa que ultrapasse as barreiras formais, é necessário que o cônjuge consiga enxergar no outro alguém interessado em ouvir, sem pré-julgamentos.
Acredite! Ser um confidente fiel de sua parceira (o), tem muitos privilégios. Digo isso, por experiencia própria. Ter a liberdade de confidencializar qualquer assunto com sua esposa é muito compensador. Não troque essa intimidade por meras formalidades.
Dificuldade de resolver conflitos
Um outro fator gerado pelas formalidades é visto na deficiência de resolver conflitos. Isso mesmo, o casal que não relata seus segredos, suas intimidades perdem a capacidade do diálogo, por meio do qual, os problemas seriam direcionados a uma solução. Para Gonçalves, “preocupar-se em praticar uma boa comunicação é fazer um investimento para se ter maior qualidade no relacionamento conjugal e familiar”, (GONÇALVES, 2015 p. 21).
Infelizmente, uma quantidade expressiva de casais não consegue ter um momento de interação, as palavras são como flechas, tendo como único objetivo de ferir. Com isso suas competências conjugais tendem a enfraquecer, entre as quais está a arte de gerenciar dificuldades. Salomão já havia nos alertado sobre os danos de palavras malditas, para ele “tanto a morte quanto a vida, estão no poder das palavras, o que bem a utiliza come do seu fruto”, (Pv 18.21).
Falta de confiança
A confiança é outro fator importantíssimo em qualquer tipo de relacionamento. Para uma melhor compreensão do termo, o dicionário Aurélio define como “crédito, fé, boa fama”, (p. 174). Para Figueiredo ela pode ser entendida como “esperança firme. Segurança íntima com o que se procede”. Ou seja, a confiança envolve intimidade em quem tem uma conduta livre de falsidade, (FIGUEIREDO, p. 524). Segundo o estudo etimológico, a palavra confiança “vem do Latim confidentia, “confiança”, de confidere, “acreditar plenamente e com firmeza”.
Mesmo após a explicação clara citada, é necessário entendermos que a confiança só é possível mediante uma boa convivência, não há condições de manter um laço baseado em confiança se o casal vive de trocas de cumprimentos. É necessário conhecer algo em sua totalidade para somente após creditar confiança. Como confiar em algo que não conhecemos?
Neste artigo, entendemos que viver de meras formalidades é um risco, então não incida neste perigo, tente e seja um amigo de sua esposa (o), procurem desfrutar de um relacionamento feliz, recheado de intimidades e boas conversas.