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Os perigos de um ministério ganancioso

A crescente valorização financeira no meio evangélico, tem sido alvo de sérias discussões. Tal circunstância tem causado um verdadeiro escândalo, haja vista tantas críticas direcionadas ao povo de Deus alegando a ganância, cobiça e valorização ao dinheiro. Contudo, ainda enxergamos a expansão do evangelho, mas há um questionamento crucial para essa situação: junto a esse crescimento também se propaga a mensagem genuína da cruz?

Como o pecador poderá alcançar o arrependimento, se a mensagem do evangelho for trocada por oratórias motivacionais de cunho financeiro? Certamente, se os sermões fugirem do verdadeiro foco, muitos estarão dentro da igreja pelas razões erradas.

Esta nobre explanação visa trazer uma reflexão sobre um assunto delicado, mas ao mesmo tempo decisivo para a permanência dos verdadeiros valores da igreja. Uma vez que aqueles que nos testemunham, tem apontado qualidades que não condizem com os servos de Deus. Aliás, ser considerado crente em nossos dias já não é algo que aponte um diferencial em meio à sociedade quando o assunto é honestidade, confiança e cumprimento de deveres.

Recentemente presenciei em um culto – dirigido por líderes do departamento de missões – a retirada de duas ofertas. Ao recolherem uma oferta para missões, o palestrante utilizou do argumento que a oferta ainda não era missionária em virtude do seu baixo valor e ainda complementou que a referida semente seria um investimento no reino de Deus. Logo refleti: Para ser considerada oferta de missões há um valor específico?  Sabemos que a obra missionária requer recursos financeiros, porém precisamos ser sábios ao solicitar a ajuda para suprir tais necessidades. Não sou contra uma segunda oferta, desde que se baseie em razões fundamentadas pela palavra de Deus, caso contrário, teremos pessoas ofertando com sentimentos gananciosos, acreditando que receberão financeiramente proporções maiores ao ofertado.

É bem verdade que existe uma linha bem sensível entre o ofertar e o investir. Quando rompemos essa linha deixamos o mandamento bíblico, “cada um contribua conforme propôs em seu coração, não por necessidade ou tristeza, porque Deus ama o que dá com alegria” (II Co 9.7). O prazer de contribuir é a marca desse versículo. Não se pode enxergar a obra de Deus como um negócio ou alguma bolsa de valores, tal visão é oposta ao que preceitua o versículo supracitado, o mesmo deixa claro que o ato de ofertar não implica em nenhum tipo de necessidade e está livre de qualquer interpretação voltada a negociação financeira com Deus. Mas, qual a raiz de tais argumentos no seio da igreja? Sem dúvida, os valores advindos do materialismo têm tomado espaço em nossos templos, e gerado uma visão gananciosa em muitos líderes e pregadores.

Ousaria conceituar tal sentimento, dentro de uma perspectiva espiritual, assim o defino: “uma raiz podre, que enegrece a alma daqueles que permitem ser dominados por Ela”. Uma definição mais objetiva é dada por Orlando Boyer, Entenda-se ganância como: “ganho ilícito, aquele que aumenta seus bens com juros” (BOYER, p 242.), ou “ganhos vis” (VINE, p.671.). Lembrando que o próprio apóstolo Paulo, advertira a Timóteo sobre as escolhas dos obreiros candidatos, recomendando que não fossem “cobiçosos de torpe ganância” (1Tm 3.8). Recomendação semelhante fora dada a Tito dizendo: “Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores. É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” (Tt 1.10-11).

Em virtude desses novos e pseudos valores propagados exageradamente no meio evangélico, trataremos de alguns perigos provenientes da ganância no ministério.

  1. Quando a ganância sobrepuja a chamada

“Que aproveita ao homem ganhar o mundo todo e perder a sua alma”? (Mc 8.36). Quantos são aqueles com chamadas grandiosas? Homens e mulheres de Deus que se permitiram ser usados pelo Criador, e, em consequência disso, coisas extraordinárias foram realizadas. Porém, em toda chamada existem renúncias, dentre essas está a decisão de não colocar as riquezas no coração. Certamente atentar para ao conselho do sábio Agur é uma escolha que promoverá uma chamada promissora, “não me dês nem a pobreza nem a riqueza, dá-me o pão que for necessário…” (Pv 30.8).

Dentro das sagradas escrituras, encontramos um homem que optou pelos ganhos vis. Geazi, tem sua história narrada no livro de II Reis capítulo cinco. O mesmo acompanhava o profeta Elizeu, homem com um grande chamado, porém, mesmo vivendo sempre ao lado do profeta, não soube aprender os mesmos valores contidos na pessoa de Elizeu. No episódio da cura de Naamã, Elizeu recebe uma oferta generosa por parte do general, mas o homem de Deus, com a qualidade de um chamado genuíno opta por não receber. Entretanto, o coração de Geazi se desvirtua, ao ver a possibilidade de ganhar facilmente um bocado de riqueza. Dentro da narrativa bíblica, o moço retorna e aceita o que Elizeu havia rejeitado, ação essa, movida puramente por um sentimento ganancioso. Em troca, o moço recebe a devida recompensa, a lepra que outrora repousava sobre Naamã agora estava no mesmo.

Ainda dentro dessa história, há uma indagação feita pelo profeta ao repreender seu moço, É este o tempo de se aceitar prata, ou de se aceitar roupas, ou olivais, ou vinhedos, ou ovelhas, ou gado vacum, ou servos, ou servas?” — (2 Reis 5:23-26.). Não há dúvidas que o chamado de Elizeu, estava paltado no compromisso com Deus. Desta maneira devemos agir quando somos postos a escolher pelo chamado ou pelo sentimento de ganhos vis. É bem verdade que ao homem e mulher de Deus são oferecidos valores ou bens, a aceitação desses não é errada até o ponto que não envolve ganhos baseados na ganância, e sim no suprir das necessidades.

  1. Quando o materialismo sobrepuja os valores espirituais

“Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu), aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os olhos com
colírio, para que vejas”.(Ap 03.17-18).

Segundo o pastor Severino Pedro, “o poder absoluto corrompe! Isto pode ser analisado tanto no campo secular como espiritual. Há criaturas que não se deixam mais admoestar; e vão a perdição (cf. Ec 4.13). A experiência do servo de DEUS deve está aquém da direção divina, pois sem ela jamais atingiremos o alvo (ver. Jr 9.1-14). O pastor de Laodicéia dizia consigo mesmo (à semelhança do fariseu): “Rico sou!”.

É notório em muitas igrejas, a corrupção dos valores espirituais pelo sentimento de poder. Isto é, assim como o pastor de Laodicéia, estão fundamentadas em suas posses, e fingem que Jesus está em seu meio. Enganadas estão!

Não podemos aceitar um evangelho materialista, o reino de Deus não consiste em ganhos materiais e sim espirituais. Devemos expor com veemência que Cristo não promove um cristianismo baseado em promessas restritas a prosperidade, seu sacrifício foi realizado para que todos chegassem ao pleno conhecimento da salvação e alcançar a vida eterna.

  1. Quando os negócios sobrepujam o ministério

E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro, Dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo.
Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. (
Atos 8:18-20).

Enxergar o reino de Deus como um negócio, é desprezível, uma vez que os templos erguidos em nome de Cristo não possuem fins lucrativos. A construção e abertura de igrejas virou sinônimo de maiores arrecadações. O Obreiro quando convidado para assumir uma igreja não tem mais como objetivo a busca de almas, mas em primeiro lugar, procura saber qual a renda da congregação ou a situação econômica da cidade ou região. A lucratividade tornou-se mais importante do que as almas e a proclamação do evangelho.

Dentro desse panorama, muitos deixaram um ministério de pregação das boas novas, por uma carreira de palestras motivacionais infundadas, visando apenas seus ganhos. Entendamos que o evangelho de Cristo, alegra e motiva o crente, aliás ele é poder! mas seu principal propósito não é a motivação, mas sim o arrependimento e salvação.

A busca pelos ganhos, fizeram com que homens de Deus trocassem seus galardões por posses materiais, bem sabemos que nosso tesouro não é aqui. Ainda se percebe neste triste panorama, pastores que viraram empresários evangélicos, tratam o povo de Deus dentro de uma perspectiva financeira, seus sermões alimentam esperança de ganhos materiais em troca do último centavo do bolso, estes passaram a ver a igreja como uma empresa, fonte de lucro. Perdeu-se a noção de que o evangelho não está voltado para promoção e crescimento material, não fora assim, os santos apóstolos teriam morrido ricos e detentores de muitas posses, fato que não aconteceu.

Tais verdades estão perceptíveis no meio evangélico. Lembro-me de um relato feito por um amigo, que em uma de suas viagens para ministrar o evangelho, presenciou questionamentos por parte do pastor da igreja, o líder por muitas vezes alegou baixos salários, dízimo pouco, e que a outra congregação a qual dirigia era bem melhor comparada à atual. São esses tipos de pastores que perderam a visão do reino de Deus, trocaram seu ministério por negócios.

Deixo aqui uma palavra de reflexão para nossos dias: “Enxergar o reino de Deus como forma de ganho, é desprezível pelo criador. Não é este o propósito da pregação do evangelho”. Atentamos para o real valor das almas.

Por: Auricléssio

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