Hoje em dia, encarar a oração como parte da vida cristã, é uma proposta desafiadora; tendo em vista a diversidade de opções para distrair nossa atenção e ocupar nosso tempo.
Na era do nanossegundo, do ritmo acelerado, manter uma vida de intimidade com Deus e orações diárias, é tarefa das mais penosas. Não requer apenas esforço em organizar o tempo, manter uma rotina, mas uma disciplina quase espartana para conseguir escapar a tantas ofertas que o mundo propõe para distração da nossa atenção. O mundo virtual e suas redes sociais carecem cada vez mais de adeptos navegando em suas entranhas; sua contra-partida é oferecer a oportunidade de vasculhar, espiar e comentar a vida alheia. Sugam das pessoas até seu último minuto do dia.
A rotina das cidades hoje asfixia o homem com uma demanda exaustiva de atividades e compromissos que acaba se tornando mais fácil entregar ao pastor ou ao ministério de intercessão a prática de oração que caberia a cada um.
A despeito das promessas firmadas consigo mesmo, falhas contínuas em manter um compromisso de oração, podem provocar um sentimento de culpa e frustração, que por sua vez, acabam desestimulando novas tentativas de estabelecer uma vida significativa e consistente de oração. Remover os obstáculos que impedem o cristão de manter uma rotina diária de oração é um dos grandes desafios desse tempos.
Não ouço a voz de Deus no meio de tanto barulho
Nossa cultura se orgulha de dar voz a todos; é até chique dar voz às minorias. Ninguém está muito a fim de ouvir ninguém. É uma missão árdua sossegar, desacelerar e ouvir. Somos cercados de ruídos por todos os lados e é extremamente dificultoso focar e ouvir sequer o som da natureza. Ou a pessoa é vencida pelo tédio – nessa era do utilitarismo – ou é engolida pelos seus próprios pensamentos e devaneios.
Segundo Jennifer Kahn, quando nascemos, somos capazes de discernir mais de 300 mil tipos de som, mas ao longo do tempo e devido a exposição a ruídos altos, essa sensibilidade vai ficando cada vez menor, (“What Your Nose Knows”, Parade Magazine). Esse constante banho de ruído vai afetar desde a concentração até a própria saúde do indivíduo.
Se isso é verdade para o mundo natural, pode-se deduzir que na mesma medida afeta ao mundo espiritual. Salmos 91:1 fala de um lugar propício para fugir aos ruídos desse mundo: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.” Esse pode ser um lugar escondido das propostas desse mundo. Um lugar onde somos convidados para estar na presença do Altíssimo; onde reina a paz, livres das dores d’alma, das aflições cotidianas, preocupações e das dúvidas.
É desejo do Eterno levar-nos a verdes pastos, guiar-nos mansamente a águas tranquilas e refrigerar nossas almas; (Salmos 23:2,3). É certo que é uma batalha para se chegar lá; e por nós mesmos não há a menor condição de fazê-lo. Por isso Jesus enviou-nos o Espírito Santo.
Não dá para esperar
Impaciência é outro obstáculo que é preciso superar para estabelecer uma efetiva vida de oração. Não há tempo a perder. O computador não pode demorar para iniciar, documentos devem ser liberados cada vez mais rápidos, carros cada vez mais rápidos, processos são criados para tornarem as coisas cada vez mais rápidas, ágeis e sempre à mão. Há até um sistema de busca na internet que chega a nos fazer pensar que adivinha o que queremos, oferecendo opções já no momento da digitação, pois ninguém tem tempo a perder.
Essa mesma inquietude e ansiedade pelo futuro, também desenvolvemos em relação a Deus. Não tem cabimento orar anos por alguma coisa. No mundo atual isso é ilógico. Aqui, os arquétipos bíblicos estão todos desatualizados. Até o ciclo de crescimento e desenvolvimento de animais criados para o abate e consumo foram reduzidos drasticamente para se adequarem à nova realidade.
Uma boa analogia para lidar com a espera pela resposta de um pedido de oração, é a mãe grávida que aguarda pelo filho que vai nascer ao final de nove meses. Ela leva sua vida, aguardando ansiosa o dia do nascimento. Ter essa mentalidade numa vida de oração pode ajudar muito, pois pode estimular a confiança em Deus, que vai determinar o tempo correto para trazer à realidade o pedido ansiosamente aguardado e gerado durante meses, ou até mesmo anos.
Por que orar e como orar
Há algumas categorias básicas de oração que deveriam nortear a vida do cristão.
PETIÇÃO – consiste em pedir a Deus coisas que precisamos para esse mundo físico, tais como alimento, trabalho, saúde e até cura. Esse tipo de oração é legitimada por Jesus na oração do Pai nosso (Mateus 6:9,13). Temos permissão para orarmos por necessidades diárias, por perdão e por proteção contra o mal.
DEVOÇÃO/ADORAÇÃO – buscamos a Deus, não pelo que Ele pode nos dar, mas pelo que Ele é. Agradecer e adorar a Deus é uma boa forma de iniciar uma oração. “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento”, (Mateus 22:37).
INTERCESSÃO – nesse tipo de oração nos posicionamos além de nossas necessidades e nos dirigimos a Deus para interceder por outra pessoa. É um exercício de amor, sobretudo. A palavra hebraica “paga”, traduzida por intercessão no Antigo Testamento, em um dos seus significados possíveis, diz que é “estar entre; colocar-se entre”. É a imagem de alguém postado entre Deus e outra pessoa. No Antigo Testamento o sacerdote intercedia pelo povo quando oferecia o sacrifício. Abraão, Moisés, Neemias e Esdras, entre outros foram intercessores. No Novo Testamento o maior exemplo de intercessor foi o próprio Jesus que intercedeu por nós.
Ao longo da História da Igreja, tem sido comprovado que por trás de grandes derramamentos do Espírito Santo e reavivamentos, tem se revelado grandes intercessores que oraram dia e noite com grande Fé e expectativa que algo iria acontecer.
Interceder não é um dom especial. Todo cristão é chamado a ser um intercessor, visto que somos sacerdócio real; “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;” (1 Pedro 2:9).
Sugestões para orar a Palavra
Salvação/renovo
Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto (Salmos 51:10).
O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância (João 10:10).
Também da soberba guarda o teu servo, para que se não assenhoreie de mim. Então serei sincero, e ficarei limpo de grande transgressão (Salmos 19:13).
Cura
Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.
Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados (Isaías 53:4,5).
Cura-me, Senhor, e sararei; salva-me, e serei salvo; porque tu és o meu louvor (Jeremias 17:14).
Proteção
Porém tu, Senhor, és um escudo para mim, a minha glória, e o que exalta a minha cabeça (Salmos 3:3).
O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio (Salmos 18:2).
Ao necessitados
Senhor, tu ouviste os desejos dos mansos; confortarás os seus corações; os teus ouvidos estarão abertos para eles;
Para fazer justiça ao órfão e ao oprimido, a fim de que o homem da terra não prossiga mais em usar da violência (Salmos 10:17,18).
(…) tu, ó Deus, fizeste provisão da tua bondade para o pobre (Salmos 68:10).
Oh, não volte envergonhado o oprimido; louvem o teu nome o aflito e o necessitado (Salmos 74:21).
Por Israel
Salva o teu povo, e abençoa a tua herança; e apascenta-os e exalta-os para sempre (Salmos 28:9).
Redime, ó Deus, a Israel de todas as suas angústias (Salmos 25:22)
Claro que essa lista é um singelo exemplo de alguns motivos de oração pelos quais podemos interceder diariamente. Ela, de maneira alguma, se esgota nesses mínimos versículos. Antes serve para provocar em cada um o desejo por firmar e esforçar-se diariamente em cultivar e manter uma vida de oração.
Orar não é maçante. O tédio, ou a sensação de estar falando sozinho, que a oração sequer está sendo ouvida, é apenas sintoma de uma condição de vida que tem se interposto entre nossa relação com Deus. Perseverar em oração é sempre melhor do que parar.
Fonte: GospelPrime