{"id":15775,"date":"2019-08-04T11:50:06","date_gmt":"2019-08-04T14:50:06","guid":{"rendered":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/?p=15775"},"modified":"2019-08-04T11:50:27","modified_gmt":"2019-08-04T14:50:27","slug":"brevissima-historia-do-reavivamento-da-rua-azuza","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/brevissima-historia-do-reavivamento-da-rua-azuza\/","title":{"rendered":"Brev\u00edssima hist\u00f3ria do reavivamento da Rua Azuza"},"content":{"rendered":"

Nesse artigo, dividido em duas partes, h\u00e1 um esfor\u00e7o em descrever com certa atualidade, e de forma brev\u00edssima \u2013 devido a limita\u00e7\u00e3o imposta pelo ve\u00edculo \u2013 o evento que teve in\u00edcio em Los Angeles, EUA, que veio a repercutir no Brasil e no mundo, influenciando gera\u00e7\u00f5es ao longo dos \u00faltimos cem anos.<\/p>\n

A primeira parte, cobre de forma introdut\u00f3ria o per\u00edodo do surgimento do movimento pentecostal, com men\u00e7\u00e3o de tr\u00eas de seus principais nomes que deixaram um legado teol\u00f3gico, enquanto o segundo trata da biografia de William J. Seymour o pastor e l\u00edder da igreja que surgiu desse movimento.<\/p>\n

Para esse estudo foram utilizadas duas obras que tratam do tema: \u201c2000 Years of Charismatic Christianity\u201d de Eddie L. Hyatt e \u201cThinking in the Spirit: theologies of the early Pentecostal movement\u201d de Douglas G. Jacobsen, al\u00e9m de consultas ao site www.christianhistoryinstitute.org.<\/p>\n

A fim de dirimir qualquer confus\u00e3o em torno de nomenclaturas \u00e9 preciso estabelecer que a teologia pentecostal norte-americana nomeia por reavivamento, esses movimentos oriundos pela manifesta\u00e7\u00e3o mais efusiva e marcante do Esp\u00edrito Santo nas igrejas evang\u00e9licas. Sua interpreta\u00e7\u00e3o \u00e9 que h\u00e1 um s\u00f3 avivamento, a saber, aquele ocorrido em Atos dos Ap\u00f3stolos, no Novo Testamento. Enquanto os eventos posteriores, seriam um re-avivamento daquela primeira visita\u00e7\u00e3o provocada pelo Esp\u00edrito Santo, conforme previsto por Jesus Cristo antes de ascender aos c\u00e9us. Enquanto, no Brasil, comumente n\u00e3o se diferencia assim, e nomeia-se como avivamento toda a manifesta\u00e7\u00e3o do Esp\u00edrito Santo com maior abrang\u00eancia e dura\u00e7\u00e3o. A interpreta\u00e7\u00e3o adotada aqui \u00e9 a norte-americana.<\/p>\n

Na noite de 6 de abril de 1906, na casa de Richard e Ruth Asberry na Rua Bonnie Brae, 244 em Los Angeles \u2013 Calif\u00f3rnia \u2013 EUA, deu-se um evento que segundo Sidney Ahlstrom, historiador da Universidade de Yale, revelou o l\u00edder negro que exerceu influ\u00eancia direta sobre a Hist\u00f3ria religiosa norte-americana, colocando-o a frente de figuras como W. E. B. Dubois e Martin Luther King, Jr. Ap\u00f3s um m\u00eas de intensa ora\u00e7\u00e3o e\u00a0jejum<\/a>, enquanto jantavam, houve a manifesta\u00e7\u00e3o espont\u00e2nea e marcante do Esp\u00edrito Santo na qual todos os presentes foram impactados. Esse evento rapidamente desencadeou um movimento \u2013 conhecido por pentecostalismo \u2013 que veio a tomar propor\u00e7\u00f5es mundiais e que no Brasil, a igreja Assembleia de Deus \u00e9, talvez, seu mais destacado fruto e consequ\u00eancia direta do impacto daquela visita\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

A origem e a hist\u00f3ria do reavivamento que aconteceu na Rua Azuza \u00e9 assunto pouco frequentado nas Assembleias de Deus, no Brasil. \u00c9 de se lamentar, porque ao ignorar fatos importantes dessa natureza, a Igreja, muitas vezes se torna como uma crian\u00e7a que n\u00e3o atinge a maturidade por n\u00e3o superar problemas que surgiram do confronto de ideias e valores sucitados por gera\u00e7\u00f5es anteriores e que fazem parte mesmo da sua ess\u00eancia.<\/p>\n

Muitos desses problemas perduram de igual modo, outros j\u00e1 foram superados por gera\u00e7\u00f5es anteriores, outros eles deixaram apontada uma dire\u00e7\u00e3o segura a ser tomada (Jr. 6:16). Se a Igreja contempor\u00e2nea insistir em omitir tema essencial como esse dos seus debates, a consequ\u00eancia \u00e9 que o senso hist\u00f3rico esvai-se, gerando um v\u00e1cuo entre passado e futuro, restando a cada gera\u00e7\u00e3o permanecer patinando sobre os mesmos problemas, consciente apenas do pr\u00f3prio umbigo, alheia ao prop\u00f3sito para o qual surgiu. O di\u00e1logo com o passado e as origens \u00e9 necess\u00e1rio \u00e0 medida que d\u00e1 sentido ao presente e aponta para o futuro.<\/p>\n

O reavivamento da Rua Azuza n\u00e3o foi um evento planejado, mas um caso complexo (Jacobsen, p.57), e ainda carece de muito estudo no Brasil. Foi uma surpreendente manifesta\u00e7\u00e3o do Esp\u00edrito Santo que provocou todo aquele fervor espiritual que incendiou Los Angeles e posteriormente o mundo. L\u00edderes crist\u00e3os de igrejas j\u00e1 estabelecidas por l\u00e1, n\u00e3o tardaram em expressar sua desaprova\u00e7\u00e3o pela turba de \u201cfan\u00e1ticos\u201d que acorriam de todos os lugares em busca de seu pentecoste.<\/p>\n

Jornalistas e curiosos vinham de todos os lugares para observar ou zombar do que acontecia ali. Aproveitadores e oportunistas tamb\u00e9m foram atra\u00eddos para experimentar do que havia ali. Os cultos estrepitosos e a diversidade dos participantes tamb\u00e9m provocou toda sorte de interpreta\u00e7\u00f5es por parte das outras igrejas.<\/p>\n

Uma caracter\u00edstica interessante do reavivamento da Rua Azuza, foi que por ser algo \u00a0espont\u00e2neo \u2013 n\u00e3o havia sido planejado \u2013 n\u00e3o dispunha de uma teologia necess\u00e1ria para dar sustenta\u00e7\u00e3o racional e senso de dire\u00e7\u00e3o a tudo aquilo, nem havia sido organizada ainda, pois a experi\u00eancia vivida por todos e suas implica\u00e7\u00f5es eram fortes o suficiente para aquele momento. Esse movimento s\u00f3 foi ter formulada sua teologia de forma tardia \u2013 \u201ca posteriori\u201d \u2013 ap\u00f3s o arrefecimento daquele fervor espiritual dos primeiros anos. Ainda n\u00e3o h\u00e1 consenso de como se conseguiu reunir sob o mesmo teto, crist\u00e3os com orienta\u00e7\u00f5es teol\u00f3gicas t\u00e3o divergentes que aflu\u00edam em torno daquele sentimento de piedade espiritual e poder. Caso \u00e9 que o que aconteceu ali, surpreendeu a todos, pela novidade que se apresentava, devido a diverg\u00eancia com qualquer defini\u00e7\u00e3o teol\u00f3gica vigente \u00e0 \u00e9poca.<\/p>\n

Charles Parhan que havia sido professor de William J. Seymour na Escola B\u00edblica no Texas, foi visitar o aluno a fim de avaliar seu desempenho e de outros a frente da enorme tarefa que se lhes apresentava, logo no in\u00edcio do movimento. Ocorre que o professor quis impor sua teologia \u2013 alienada a tudo o que ocorria ali \u2013 mas foi rapidamente rechassado por Seymour, que num entendimento espiritual, nutria um temor impetuoso quanto \u00e0 interfer\u00eancia humana em tudo o que estava acontecendo diante de seus olhos.<\/p>\n

Miss\u00e3o da F\u00e9 Apost\u00f3lica, como ficou conhecida a igreja por eles aberta para abrigar a imensa aglomera\u00e7\u00e3o de pessoas atra\u00eddas pelo fervor espiritual desde a primeira reuni\u00e3o em casa dos Asberry na Rua Bonnie Brae, tinha Seymour como l\u00edder e pastor. Por\u00e9m, vale lembrar que ele n\u00e3o desenvolveu tudo sozinho, antes, foi auxiliado por outros l\u00edderes de n\u00e3o menos import\u00e2ncia. Merece men\u00e7\u00e3o especial \u00a0Clara Lum, que manteve circulando mensalmente o informativo interno da Miss\u00e3o e que teve papel fundamental na orienta\u00e7\u00e3o e divulga\u00e7\u00e3o do trabalho ali desenvolvido.<\/p>\n

Seymour entendeu desde o in\u00edcio, como parte do seu chamado pastoral, prover meios e oportunidade ali na Miss\u00e3o da F\u00e9 Apost\u00f3lica, de modo que cada um que para ali acorresse, pudesse ter sua experi\u00eancia pentecostal pessoal, dando sentido e ambasado em orienta\u00e7\u00f5es teol\u00f3gicas para tal. Com o posterior arrefecimento do fervor espiritual da Azuza e com a Miss\u00e3o j\u00e1 inserida no contexto pentecostal da cidade, Seymour dedicou-se a escrever o livro \u201cAs doutrinas e a disciplina da Miss\u00e3o da F\u00e9 Apost\u00f3lica de Los Angeles\u201d, no qual foram compiladas sua teologia e pr\u00e1ticas pastorais. Fica evidente, at\u00e9 pelo t\u00edtulo do livro, que a teologia que surge dali, de in\u00edcio, era muito mais prescritiva e pr\u00e1tica do que propriamente especulativa. Seu lema era: \u201cn\u00e3o saia daqui falando sobre as linguas, fale de Jesus\u201d. Outra fa\u00e7anha sua foi manter negros e brancos trabalhando juntos, harmoniosamente, numa \u00e9poca de intensa segrega\u00e7\u00e3o racial.<\/p>\n

Outro nome de destaque no auge do reavivamento da Azuza, foi o de George F. Taylor, da Carolina do Norte, influenciado por G. B. Cashwell, que chegou a atuar em cultos na Miss\u00e3o. Embora Taylor nunca tenha frequentado a Miss\u00e3o em Los Angeles, tornou-se um fervoroso pentecostal e \u201catento observador do movimento\u201d, como afirmou Cashwell. Seu livro \u201cO Esp\u00edrito e a Noiva\u201d, publicado em 1907, demonstra Taylor como um vigoroso e sistem\u00e1tico pensador crist\u00e3o. Esse livro representou um salto na articula\u00e7\u00e3o e um avan\u00e7o intelectual a respeito da teologia gerada pelo movimento pentecostal da Azuza. Taylor arguia que seu livro nada mais fazia que expor cuidadosamente a B\u00edblia; cujo reavivamento pentecostal o ajudou criativamente na sua tentativa de trazer velhas verdades b\u00edblicas em novas revela\u00e7\u00f5es. E aqui vale o par\u00eantese para que n\u00e3o se confunda A Revela\u00e7\u00e3o, enquanto Palavra de Deus, com essas \u201cideias\u201d, por assim dizer, que sucitaram em Taylor a partir de seu contato com o movimento pentecostal.<\/p>\n

David Wesley Myland, foi um pregador pentecostal itinerante, com participa\u00e7\u00e3o no lan\u00e7amento de outras denomina\u00e7\u00f5es pentecostais e autor do livro \u201cO pacto da Chuva Ser\u00f4dia\u201d, publicado em 1910, com sua interpreta\u00e7\u00e3o tipol\u00f3gica e prof\u00e9tica do Movimento de Reavivamento da Azuza \u00e0 luz do Velho Testamento. Ao contr\u00e1rio do rigor sistem\u00e1tico de Taylor, Myland se utilizava muito mais de met\u00e1foras e s\u00edmbolos para expor sua teologia. Entendia a caminhada de f\u00e9 muito mais como um progresso constante que iria cessar apenas no encontro do fiel com Deus. Myland se preocupava muito mais em n\u00e3o separar a vida pr\u00e1tica da caminhada de f\u00e9 e tentar articular entre essas dimens\u00f5es do que entend\u00ea-las como coisas distintas.<\/p>\n

Esses tr\u00eas nomes aqui mencionados, n\u00e3o esgotam de maneira alguma a reflex\u00e3o teol\u00f3gica produzida sobre o pentecostalismo na Azuza durante seu per\u00edodo de efervec\u00eancia. Evidentemente que havia diferen\u00e7a nos pontos de vista e nas abordagens teol\u00f3gicas desenvolvidas por Seymour, Taylor e Myland, por\u00e9m n\u00e3o eram vis\u00f5es antag\u00f4nicas, mas tentativas individuais de preencher o v\u00e1cuo criado por algo que surge com um impacto tremendo no ambiente crist\u00e3o e que as teologias vigentes ainda n\u00e3o contemplavam, nem constava de seu cabedal de recursos interpretar ou dar sentido.<\/p>\n

Bibliografia:<\/strong>
\nJACOBSEN, D. G. Thinking in the Spirit: theologies of the early Pentecostal movement. Bloomington, Indiana University Press, 2003.
\nwww.christianhistoryinstitute.org<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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