{"id":18134,"date":"2020-08-27T16:35:26","date_gmt":"2020-08-27T19:35:26","guid":{"rendered":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/?p=18134"},"modified":"2020-09-19T07:45:45","modified_gmt":"2020-09-19T10:45:45","slug":"desigrejado-um-peixe-fora-dagua","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/desigrejado-um-peixe-fora-dagua\/","title":{"rendered":"Desigrejado: um peixe fora d\u2019\u00e1gua"},"content":{"rendered":"

Um peixe fora d\u2019\u00e1gua que pode morrer a qualquer momento. Assim se percebe o movimento das pessoas que n\u00e3o querem ser membros das igrejas evang\u00e9licas. Antigamente se ouvia falar sobre os cat\u00f3licos romanos que eram praticantes e n\u00e3o praticantes. Mas os evang\u00e9licos eram praticantes. N\u00e3o existia not\u00edcia de um evang\u00e9lico que n\u00e3o fosse membro de uma\u00a0igreja<\/a>. Era comum a emiss\u00e3o de carteira de identifica\u00e7\u00e3o para os membros. Mas a igreja evang\u00e9lica mudou.<\/p>\n

Hoje existe o evang\u00e9lico que n\u00e3o quer mais frequentar uma igreja institucional. Eles ficaram conhecidos popularmente como desigrejados que s\u00e3o crist\u00e3os evang\u00e9licos que se desvincularam das igrejas. N\u00e3o aceitam mais fazer parte da membresia, criticam a institucionaliza\u00e7\u00e3o da\u00a0f\u00e9<\/a>. Os sem igreja s\u00e3o uma tribo informal com pessoas que desistiram da igreja.<\/p>\n

<\/div>\n

O movimento tamb\u00e9m recebe diversos nomes alternativos. Te\u00f3logos e cientistas da religi\u00e3o, que publicaram obras sobre o assunto, descrevem a pessoa que quer dist\u00e2ncia de igreja como descrente, antidenominacionalista, f\u00e9 aut\u00f4noma, sem igreja, tribo, ilhado, separatista. O termo desigrejado \u00e9 criticado pelas pessoas que n\u00e3o querem ser membros das igrejas que entendem que \u00e9 pejorativo.<\/p>\n

Nas\u00a0redes sociais<\/a>\u00a0circula uma frase que ilustra a realidade atual. A frase diz que chegou o tempo que os evang\u00e9licos precisam evangelizar os pr\u00f3prios evang\u00e9licos. O cen\u00e1rio religioso brasileiro se alterou. Os evang\u00e9licos que n\u00e3o querem saber de igreja tornaram-se aut\u00f4nomos na f\u00e9.<\/p>\n

Os n\u00fameros<\/h2>\n

A partir da divulga\u00e7\u00e3o da Pesquisa do Or\u00e7amento Familiar (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat\u00edstica (IBGE), esse assunto ficou em evid\u00eancia e os estudiosos da religi\u00e3o voltaram a aten\u00e7\u00e3o para pesquisar sobre o tema.<\/p>\n

O IBGE pesquisou o assunto em 2003 e em 2009. Mas divulgou os n\u00fameros no censo de 2010.<\/p>\n

De acordo com a pesquisa, 14% entre os declarados evang\u00e9licos n\u00e3o t\u00eam v\u00ednculo institucional. Esse n\u00famero representa quatro milh\u00f5es de brasileiros. N\u00fameros mais atuais n\u00e3o foram pesquisados uma vez que o censo do IBGE \u00e9 realizado de 10 em 10 anos.<\/p>\n

Nova pesquisa deveria ter sido feita este ano, mas foi adiada por causa da Covid-19.<\/p>\n

A diferen\u00e7a entre desigrejado e desviado<\/h2>\n

\u00c9 necess\u00e1rio fazer separa\u00e7\u00e3o entre desigrejados e desviados. O primeiro \u00e9 formado por crist\u00e3os que deixaram as igrejas, mas n\u00e3o abandonaram a f\u00e9.<\/p>\n

Os desigrejados at\u00e9 podem deixar a f\u00e9 futuramente ou n\u00e3o. Os desigrejados podem esfriar a f\u00e9 e se desviar, mas n\u00e3o s\u00e3o desviados necessariamente.<\/p>\n

Tipos de desigrejados<\/h2>\n

N\u00e3o existe um \u00fanico tipo de p\u00fablico. Existem pessoas com os mais variados discursos justificando a sa\u00edda da igreja. Os te\u00f3logos que estudam esse tema descrevem subgrupos dentro do grande quadro de desigrejados. Eu entendo que \u00e9 melhor simplificar e ver esse movimento em tr\u00eas grandes partes.<\/p>\n

Existe o primeiro grupo de pessoas que abandonaram a igreja e a f\u00e9. Esse grupo primeiro abandona as reuni\u00f5es da igreja, torna-se desigrejado e depois desviado.<\/p>\n

No segundo grupo, existem aqueles que abandonaram a igreja, mas mant\u00e9m a f\u00e9. S\u00e3o os crist\u00e3os sem igreja. Os decepcionados por terem vivido algum problema na comunidade. Tentam continuar a ser crist\u00e3os sem pertencer ou frequentar um templo. Nesse segundo grupo h\u00e1 pessoas que amam a Cristo, mas preferem viver longe dos pastores e dos irm\u00e3os. Esses n\u00e3o se consideram fora do corpo de Cristo. Querem servir a Jesus. S\u00f3 n\u00e3o aceitam a tutela institucional. Algumas das pessoas desse grupo s\u00e3o levadas a s\u00e9rio. Outras s\u00e3o criticadas, rotuladas ironicamente e discriminadas.<\/p>\n

T\u00eam ainda os mais radicais. O terceiro grupo \u00e9 formado pelos que n\u00e3o frequentam culto e pregam o fracasso da igreja organizada. Defendem o cristianismo sem igreja. Afirmam que as pessoas devem sair da igreja para encontrar\u00a0Deus<\/a>. Querem que as igrejas acabem em todo o mundo. Que fechem suas portas. Pregam o fim da institui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Qual a diferen\u00e7a entre os decepcionados e os radicais? Apesar de ter pessoas que abandonaram a igreja em todos os grupos, a diferen\u00e7a principal entre eles \u00e9 que o segundo grupo n\u00e3o faz milit\u00e2ncia pelo fim da organiza\u00e7\u00e3o, para que todos os templos fechem as portas.<\/p>\n

Os decepcionados est\u00e3o ainda com as feridas abertas, mas n\u00e3o usam de ideias e palavras t\u00e3o radicais como o terceiro grupo. Geralmente as pessoas decepcionadas acabam migrando para projetos como reuni\u00f5es nos lares ou c\u00e9lulas, por exemplo. T\u00eam pessoas que n\u00e3o querem pertencer \u00e0 membresia e que s\u00e3o usu\u00e1rios tempor\u00e1rios dos servi\u00e7os e eventos oferecidos pela igreja como os congressos e semin\u00e1rios. Existem os que usam a igreja como vida social.<\/p>\n

O que importa n\u00e3o \u00e9 ajudar a igreja a crescer, mas us\u00e1-la para passar o tempo, fazer amigos, servir-se dela como se fosse uma institui\u00e7\u00e3o secular apenas. Tudo sem o devido envolvimento de pertencimento. E tamb\u00e9m h\u00e1 os crist\u00e3os sem igreja que s\u00e3o adeptos das ministra\u00e7\u00f5es pela televis\u00e3o e pela internet. Fazem da rede o seu templo. S\u00e3o observadores, sem comunh\u00e3o e sem compromisso.<\/p>\n

O alimento espiritual pela internet<\/h2>\n

A p\u00f3s-modernidade trouxe mudan\u00e7as para a igreja. Os meios de comunica\u00e7\u00e3o de massa da atualidade conectam o mundo. A pr\u00e1tica da f\u00e9 passou por transforma\u00e7\u00e3o ao embarcar no uso da comunica\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Muitos crist\u00e3os se alimentam espiritualmente de conte\u00fado divulgado pela internet (blogs, portais e redes sociais), r\u00e1dio, TV, aplicativos (como o WhatsApp). Os desigrejados tamb\u00e9m entraram nesse contexto de ter alimento espiritual on-line.<\/p>\n

Multiplicam-se p\u00e1ginas nas redes sociais debatendo sobre ser desigrejado. H\u00e1 muitos v\u00eddeos postados no YouTube tamb\u00e9m. A liberdade de postar o pr\u00f3prio conte\u00fado ajuda na divulga\u00e7\u00e3o da ideia de ser avesso \u00e0 igreja institucional.<\/p>\n

A internet criou uma rede de relacionamento das pessoas. Conex\u00e3o total. A religi\u00e3o n\u00e3o ficou de fora desse universo on-line. A f\u00e9 saiu dos templos e entrou para a rede. A igreja evang\u00e9lica brasileira se comunica via internet. E quem tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 mais igreja institucional, como os desigrejados, est\u00e3o ligados nos grupos on-line.<\/p>\n

S\u00e3o muitas as p\u00e1ginas de comunidades dos desigrejados nas redes sociais, pois essa ferramenta possibilita facilmente o compartilhar de informa\u00e7\u00f5es. S\u00e3o fartamente usados o Facebook, Twitter, Linkedln, os aplicativos Instagram e Snapchat.<\/p>\n

Por que as pessoas se afastam da igreja?<\/h2>\n

S\u00e3o muitas as raz\u00f5es para a desilus\u00e3o com o corpo de Cristo. Vamos listar algumas:<\/p>\n

As pessoas podem se afastar da comunh\u00e3o dentro do templo alegando que a igreja institucionalizada n\u00e3o cresce e perdeu de vista a sua miss\u00e3o.<\/p>\n

Outros, principalmente os jovens, entendem que a igreja est\u00e1 repleta de pessoas de mente fechada, ultraconservadores hip\u00f3critas, mis\u00f3ginos, homof\u00f3bicos e julgadores.<\/p>\n

Muitos frequentadores da igreja sentem-se feridos e decepcionados.<\/p>\n

Existem aqueles que afirmam raz\u00f5es hist\u00f3ricas para abandonar a comunidade. Dizem que ideias gregas suplantaram o pensamento hebraico na igreja. O paganismo invadiu os templos acabando com a \u201cigreja pura\u201d. A igreja est\u00e1 corrompida. Boa parte do culpado por isso acontecer foi o Imp\u00e9rio Romano.<\/p>\n

De acordo com alguns crist\u00e3os insatisfeitos, a igreja \u00e9 um acidente hist\u00f3rico n\u00e3o b\u00edblico, uma vers\u00e3o do paganismo. Esse grupo condena at\u00e9 o formato atual de culto alegando que \u00e9 um modelo pag\u00e3o. N\u00e3o aceita o modelo de culto com serm\u00e3o, n\u00e3o aceita a igreja ter pr\u00e9dios, rejeitam os l\u00edderes pastores. N\u00e3o concordam com a liturgia, criticam dar oferta, n\u00e3o aceitam os corais nas reuni\u00f5es.<\/p>\n

Dizem que o modelo atual de culto foi influenciado negativamente pelo Imp\u00e9rio Romano e que a igreja do s\u00e9culo XXI perdeu a pureza que tinha a igreja do s\u00e9culo I.<\/p>\n

Esse grupo que rejeita o modelo de culto e da organiza\u00e7\u00e3o administrativa da igreja s\u00e3o os mais radicais. Muitos defendem at\u00e9 o fechamento das portas da igreja. Falam tamb\u00e9m que n\u00e3o \u00e9 b\u00edblico a vis\u00e3o de igreja organizacional, institucional, hier\u00e1rquica, program\u00e1tica e com cultos semanais. Defendem que Jesus n\u00e3o veio para criar uma religi\u00e3o.<\/p>\n

A ideia dos desigrejados \u00e9 que devemos ficar distantes das doutrinas humanas e dos rituais existentes hoje. S\u00f3 assim a igreja estaria mais perto de Deus.<\/p>\n

Quais as consequ\u00eancias do movimento?<\/h2>\n

O pensamento de afastar-se da igreja est\u00e1 gerando pessoas que n\u00e3o participam ativamente. S\u00e3o cr\u00edticos. Pulam de igreja em igreja. Optam pela dist\u00e2ncia e n\u00e3o ajudam na edifica\u00e7\u00e3o. N\u00e3o contribuem com os cultos das igrejas que visitam.<\/p>\n

Esquecem que cada um prestar\u00e1 contas acerca da esperan\u00e7a da f\u00e9, de incentivar o amor e as boas obras. Esquecem da responsabilidade de ter o cuidado pelos irm\u00e3os. Esquecem de cumprir o \u201cIde\u201d de Jesus, pois pouco fazem por miss\u00f5es.<\/p>\n

Os desigrejados mais radicais defendem o fim das igrejas institucionalizadas. Para substituir a igreja que dizem estar corrompida, criam um modelo alternativo de reuni\u00e3o. Sustentam que esse novo modelo criado \u00e9 o verdadeiro e baseado na igreja primitiva.<\/p>\n

Vivendo os modelos alternativos<\/h2>\n

Por causa da sa\u00edda de muitos evang\u00e9licos das igrejas tradicionais, uma nova onda de igreja alternativa est\u00e1 ganhando for\u00e7a no Brasil. S\u00e3o as reuni\u00f5es dom\u00e9sticas. Diante das novas ideias para a administra\u00e7\u00e3o eclesi\u00e1stica e doutrinas diferentes, as pessoas apontam novos caminhos de ser igreja.<\/p>\n

Surge a pergunta: s\u00e3o desigrejadas as pessoas que frequenta as reuni\u00f5es crist\u00e3s nos lares? A resposta \u00e9 n\u00e3o. O minist\u00e9rio em c\u00e9lula (reuni\u00e3o dom\u00e9stica ou igreja em casa) \u00e9 uma alternativa para onde migram as pessoas que n\u00e3o desejam mais pertencer a uma igreja tradicional. Pode ser um caminho vi\u00e1vel para os desigrejados n\u00e3o se tornarem desviados e n\u00e3o se desvencilharem de vez da comunh\u00e3o com outras pessoas da mesma f\u00e9.<\/p>\n

Mas que fique bem claro: o modelo de igreja em casa n\u00e3o \u00e9 desigrejada, n\u00e3o prega o fim da igreja tradicional e n\u00e3o quer se afastar da f\u00e9. Muito pelo contr\u00e1rio.<\/p>\n

Os crist\u00e3os que optam por esse modelo s\u00e3o fi\u00e9is, praticam as ordenan\u00e7as da\u00a0ceia<\/a>\u00a0e do\u00a0batismo<\/a>. Querem participar do corpo de Cristo. S\u00f3 entendem que podem desenvolver a comunh\u00e3o em ambiente diferente ao do templo. E veem no modelo b\u00edblico uma alternativa. \u00c9 a busca por ser parecidos com a pr\u00e1tica de f\u00e9 dos primeiros crist\u00e3os, em Jerusal\u00e9m, que tamb\u00e9m se reuniam em casas.<\/p>\n

N\u00e3o existe uma estat\u00edstica no Brasil sobre o n\u00famero de resid\u00eancias nas quais acontecem cultos. Informalmente, sabe-se que \u00e9 uma realidade esse tipo de reuni\u00e3o crist\u00e3. Nas conversas com os amigos \u00e9 comum ouvir as pessoas dizendo que deixaram os templos e decidiram servir a Deus e \u00e0 comunidade por meio das igrejas em casa. Muitos decepcionados com a igreja institucional buscam o caminho da comunidade da f\u00e9 por meio da participa\u00e7\u00e3o em pequenos grupos e c\u00e9lulas. Fazer parte desses grupos significa estar inserido no corpo de Cristo, mas de maneira informal.<\/p>\n

O lar \u00e9 um espa\u00e7o prop\u00edcio para o ajuntamento em comunh\u00e3o. Esse tipo de reuni\u00e3o pode muito bem servir de caminho para os desigrejados voltarem ao ajuntamento de f\u00e9. Inclusive existe base b\u00edblica e teol\u00f3gica para esse modelo. As casas foram os locais de encontro dos primeiros crist\u00e3os no s\u00e9culo I. O livro b\u00edblico de Atos d\u00e1 v\u00e1rios exemplos de Koinonia, ou seja, de comunidade, participa\u00e7\u00e3o. Lucas, o autor do livro, mostra que a igreja compartilhada nos lares tinha caracter\u00edsticas \u00edmpares como hospitalidade, ajuda m\u00fatua entre as pessoas, divis\u00e3o dos bens e da alimenta\u00e7\u00e3o. Foi das casas de Jerusal\u00e9m que os crist\u00e3os expandiram o minist\u00e9rio indo para as cidades de Filipos, Cesareia, Damasco, \u00c9feso entre outros locais. Cidades diferentes, mas a\u00e7\u00e3o padronizada. Todos se reuniam em casas.<\/p>\n

Mesmo sendo uma op\u00e7\u00e3o para os desigrejados que n\u00e3o querem ser membros de uma igreja formal, o modelo de igreja dom\u00e9stica n\u00e3o \u00e9 livre de problemas. H\u00e1 dificuldades em se viver valores \u00e9ticos e relacionais. E h\u00e1 ainda uma cr\u00edtica, pois parece que s\u00e3o defensores do niilismo. Mas n\u00e3o s\u00e3o. Os adeptos da igreja em casa n\u00e3o pregam essa doutrina filos\u00f3fica. N\u00e3o defendem uma vis\u00e3o c\u00e9tica radical em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 igreja tradicional, n\u00e3o buscam aniquilar as convic\u00e7\u00f5es tradicionais. A vis\u00e3o de igreja em casa s\u00f3 quer ser uma op\u00e7\u00e3o a mais. Uma possibilidade de ser igreja fora do tradicional, na tentativa de voltar ao modelo primitivo.<\/p>\n

Realmente n\u00e3o se pode generalizar afirmando que as pessoas que buscam uma comunh\u00e3o alternativa nas resid\u00eancias s\u00e3o todas niilistas. Mas tamb\u00e9m n\u00e3o se pode negar que, dentro do movimento dos desigrejados, existe, sim, a filosofia niilista. O que \u00e9 niilismo? O termo que vem do latim nihil e significa nada. O conceito de niilismo \u00e9, dentro de uma vis\u00e3o nietzschiana, \u201ca descoberta da perda da verdade, da morte de Deus, ou melhor, o estado, a condi\u00e7\u00e3o de um mundo sem mais verdade.\u201d H\u00e1 ainda outros autores que definem niilismo como \u201co processo pelo qual os valores fundamentais da metaf\u00edsica se revelam infundados e como tais se aniquilam em sua total inconsist\u00eancia filos\u00f3fica.\u201d<\/p>\n

Niilista \u00e9 o contestador dos valores e da ordem social vigente. \u00c9 o homem que nada cr\u00ea nada ou reconhece. Aquele que tudo examina do ponto de vista cr\u00edtico. \u00c9 o homem que n\u00e3o se curva perante nenhuma autoridade e que n\u00e3o admite como artigo de f\u00e9 nenhum princ\u00edpio, por maior respeito que mere\u00e7a. O niilista vive um choque de gera\u00e7\u00f5es. Ele exp\u00f5e a rachadura que existe entre pessoas com vis\u00e3o tradicional e outras com abertura de pensamento. Existem alguns que apelam para cren\u00e7a em antigos princ\u00edpios, principalmente de f\u00e9. E existem outros que n\u00e3o s\u00e3o mais capazes de cultivar uma cren\u00e7a. Realidade que ilustra bem o mundo atual onde cresce o n\u00famero de ateus e desigrejados.<\/p>\n

O niilismo \u00e9 uma corrente filos\u00f3fica, um estilo de vida cr\u00edtico que jogou por terra fundamentos antes s\u00f3lidos como a religi\u00e3o. Nele se fala sobre o fim da verdade, do crit\u00e9rio absoluto e universal. \u00c9 o ser humano convocando seus semelhantes \u00e0 sua pr\u00f3pria liberdade e responsabilidade, agora n\u00e3o mais garantida, nem controlada por nada, muito menos pela religi\u00e3o.<\/p>\n

Entendo a pr\u00e1tica da espiritualidade<\/h2>\n

Al\u00e9m das ideias niilistas, \u00e9 preciso entender como \u00e9 a espiritualidade no mundo de hoje. A p\u00f3s-modernidade desenhou um universo religioso pr\u00f3prio que pode ser percebido muito claramente no Brasil. A vis\u00e3o p\u00f3s-moderna do universo religioso brasileiro \u00e9 m\u00faltipla. Entenda por p\u00f3s-modernidade uma \u00e9poca de mudan\u00e7a de h\u00e1bitos, valores, concep\u00e7\u00f5es e pr\u00e1ticas que marcaram o mundo e o diferencia dos per\u00edodos hist\u00f3ricos passados. \u00c9 um conjunto de novos valores na m\u00fasica, na literatura, na arte, nos filmes, nas novelas, no modo de vestir e no trato com as pessoas. \u00c9 um tempo no qual valores educacionais, sociais, pol\u00edticos, morais e religiosos est\u00e3o sendo contestados e outros s\u00e3o propostos para o lugar.<\/p>\n

O mundo p\u00f3s-moderno engloba todas as cren\u00e7as, nas suas mais variadas linhas de credo. A sociedade caminhou para exercer uma espiritualidade aut\u00f4noma, longe da tutela das institui\u00e7\u00f5es religiosas, longe do dom\u00ednio religioso. \u00c9 preciso entender que a pr\u00e1tica da espiritualidade na era p\u00f3s-moderna tem caracter\u00edsticas diversas como as pessoas avessas \u00e0 tutela institucional. Religi\u00e3o n\u00e3o \u00e9 institucional, as pessoas s\u00e3o religiosas sozinhas. S\u00e3o aut\u00f4nomas no exerc\u00edcio de suas cren\u00e7as. Est\u00e3o com Deus, mas querem ficar longe da institui\u00e7\u00e3o igreja. O grande exemplo s\u00e3o os desigrejados.<\/p>\n

Hoje mudou tamb\u00e9m a ideia do que \u00e9 verdadeiro e falso. A sociedade procura o que funciona sem querer saber se \u00e9 certo ou errado. A religiosidade tornou-se subjetiva, mudando a ideia do que \u00e9 verdadeiro e falso uma vez que agora n\u00e3o se est\u00e1 preocupado com a verdade absoluta. Ali\u00e1s, na vis\u00e3o de muitas pessoas, n\u00e3o existe mais espa\u00e7o para a verdade inquestion\u00e1vel. J\u00e1 era o absolutismo.<\/p>\n

O niilismo trouxe essa quebra de paradigma e colocou um fim na verdade absoluta. Tudo \u00e9 questionado e criticado. Hoje as pessoas querem saber o que lhes \u00e9 agrad\u00e1vel, o que pode saciar a ideia do que quer agora, imediatamente. \u00c9 a ideia do eu, do meu e do agora. A pessoa diz o que quer, do jeito que quer viver e crer e deseja resultados de sua f\u00e9 imediatamente.<\/p>\n

Estamos na era do ego\u00edsmo e do individualismo extremo. Abaixo a coletividade, pois o importante \u00e9 sobressair a vontade pr\u00f3pria. Parece contradit\u00f3rio, mas \u2013 mesmo existindo as comunidades em rede, aumenta o individualismo. Em outras palavras, a pessoa est\u00e1 cada vez mais sozinha mesmo conectada.<\/p>\n

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Um peixe fora d\u2019\u00e1gua que pode morrer a qualquer momento. Assim se percebe o movimento das pessoas que n\u00e3o querem ser membros das igrejas evang\u00e9licas. Antigamente se ouvia falar sobre os cat\u00f3licos romanos que eram praticantes e n\u00e3o praticantes. Mas os evang\u00e9licos eram praticantes. N\u00e3o existia not\u00edcia de um evang\u00e9lico que n\u00e3o fosse membro de […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":18135,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_acf_changed":false,"footnotes":""},"categories":[5,194],"tags":[],"acf":[],"aioseo_notices":[],"fimg_url":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/08\/peixe.jpg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/18134"}],"collection":[{"href":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=18134"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/18134\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":18137,"href":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/18134\/revisions\/18137"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/18135"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=18134"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=18134"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/gospelpbs.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=18134"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}